“... Gemidos,
soluços, frases dolorosas pronunciadas a esmo... Rostos escaveirados, mãos
esqueléticas, facies monstruosas
deixavam transparecer terrível miséria espiritual.
Tão angustiosas
foram minhas primeiras impressões que procurei os recursos da prece para não
fraquejar.”
“... – Irmão
Tobias!... Irmão Tobias!... por caridade! – gritou um ancião, gesticulando,
agarrado ao leito, à maneira de louco – estou a sufocar! Isto é mil vezes pior
que a morte na Terra... Socorro! socorro! Quero sair, sair!... quero ar, muito
ar!”
“... – Por que
teria o Ribeiro piorado tanto?”
“... o
Assistente Gonçalves esclareceu que a carga de pensamentos sombrios, emitidos
pelos parentes encarnados, era a causa fundamental desse agravo de perturbação.
Visto achar-se ainda muito fraco e sem ter acumulado força mental suficiente
para desprender-se dos laços mais fortes do mundo, o pobre não tem resistido,
como seria de desejar.”
“... – O
pobrezinho permanece na fase de pesadelo, em que a alma pouco mais vê e ouve
que as aflições próprias. O homem, meu caro, encontra na vida real o que
amontoou para si mesmo...”
“... Seguimos
através de numerosas filas de camas bem cuidadas, sentindo a desagradável exalação
ambiente, oriunda, como vim a saber mais tarde, das emanações mentais dos que
ali se congregavam, com as dolorosas impressões da morte física e, muita vez,
sob o império de baixos pensamentos.
- Reservam-se
estas câmaras – explicou o companheiro bondosamente – apenas a entidades de
natureza masculina.”
“... – Não
devemos observar aqui somente dor e desolação. Lembre, meu irmão, que estes
doentes estão atendidos, que já se retiraram do Umbral, onde tantas armadilhas
aguardam os imprevidentes, descuidosos de si mesmos. Nestes pavilhões, pelo
menos, já se preparam para o serviço regenerador. Quanto às lágrimas que
vertem, recordemos que devem a si mesmos esses padecimentos. A vida do homem
estará centralizada onde centralize ele o próprio coração.”
“... – São
contrabandistas na vida eterna...”
“... – Acreditavam
que as mercadorias propriamente terrestres teriam o mesmo valor nos planos do
Espírito. Supunham que o prazer criminoso, o poder do dinheiro, a revolta
contra a lei e a imposição dos caprichos atravessariam as fronteiras do túmulo
e vigorariam aqui também, oferecendo-lhes ensejos a disparates novos. Foram
negociantes imprevidentes. Esqueceram de cambiar as posses materiais em
créditos espirituais. Não aprenderam as mais simples operações de câmbio no
mundo. Quando iam a Londres, trocavam contos de réis por libras esterlinas;
entretanto, nem com a certeza matemática da morte carnal se animaram a adquirir
os valores da espiritualidade. Agora... que fazer? Temos os milionários das
sensações físicas transformados em mendigos da alma.”
“... Abriu-se a
porta e quase cambaleei ante a surpresa angustiosa. Trinta e dois homens de
semblante patibular permaneciam inertes em leitos muito baixos, evidenciando
apenas leves movimentos de respiração...”
“... – Estes
sofredores padecem um sono mais pesado que outros de nossos irmãos ignorantes.
Chamamos-lhes crentes negativos. Ao invés de aceitarem o Senhor, eram vassalos
intransigentes do egoísmo; ao invés de crerem na vida, no movimento, no
trabalho, admitiam somente o nada, a imobilidade e a vitória do crime. Converteram
a experiência humana em constante preparação para um grande sono e, como não
tinham qualquer idéia do bem, a serviço da coletividade, não há outro recurso
senão dormirem longos anos, em pesadelos sinistros.”
“... Muito
cuidadoso, Tobias começou a aplicar passes de fortalecimento, sob meus olhos
atônitos. Finda a operação nos dois primeiros, começaram ambos a expelir negra
substância pela boca, espécie de vômito escuro e viscoso, com terríveis
emanações cadavéricas.
- São fluidos
venenosos que segregam – explicou Tobias, muito calmo.
Narcisa fazia o
possível por atender prontamente à tarefa de limpeza, mas debalde. Grande
número deles deixava escapar a mesma substância negra e fétida. Foi então, que,
instintivamente, me agarrei aos petrechos de higiene e lancei-me ao trabalho
com ardor...”“... O serviço continuou por todo o dia, custando-me abençoado suor, e nenhum amigo do mundo poderia avaliar a alegria sublime do médico que recomeçava a educação de si mesmo, na enfermagem rudimentar.”
(Livro: Nosso Lar, pelo Espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, editora FEB)
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