Dentre as muitas deformações “físicas” que irrompem nos seres
desavisados, encarnados e desencarnados, destacamos duas humilhantes, cruéis e
violentas, as chamadas zoantropia e a licantropia.
Essas são duas formas de obsessões, através da subjugação e do fascínio, para
as quais o próprio homem abre passagem. São verdadeiras metamorfoses perispiríticas, realizadas através da
hipnose, por obsessores implacáveis.
Na zoantropia o indivíduo imprime a
sensação de que não é um homem, mas, sim, um animal qualquer. Já na licantropia ele pensa ser um lobo.
Um caso de zoantropia em desencarnado
“Um dos casos mais dramáticos que presenciei foi o de um companheiro que
havia sido reduzido, por métodos implacáveis de hipnose, à condição de um fauno.
Estava de tal maneira preso à sua indução, que não podia falar, pois um fauno
não fala. A despeito de tudo, porém, acabou falando inteligivelmente, para
enorme surpresa sua. Fazendo o médium exibir suas mãos, dissera: — Veja. Não
tenho mãos, e sim cascos.
Estivera mergulhado, por séculos a fio, num tenebroso antro, onde conviveu,
sob as mais abjetas condições subumanas, com outros seres reduzidos a condições
semelhantes à sua, e que nem mais se conscientizavam de terem sido criaturas
racionais. Fora também um poderoso, aí pelo século 15, na Alemanha, e deve ter
cometido erros espantosos.
Um dos companheiros do grupo forneceu-nos recursos ectoplasmáticos e, com
nossos passes e o apoio que obtivemos através da prece, foi possível restituir-lhe
a forma perispiritual de ser humano...” (1)
Um caso de licantropia em encarnado
“Levantara-se a dama, de esquisita maneira, e, rodopiando sobre os
calcanhares, qual se um motor lhe acionasse os nervos, caiu em convulsões,
inspirando piedade.
Jazia sob o império de impassíveis entidades da sombra, sofrendo, contudo, mais
fortemente, a atuação de uma delas que, ao enlaça-la, parecia interessada em
aniquilar-lhe a existência.
A infortunada senhora, quase que uivando, à semelhança de loba ferida, gritava
a debater-se no piso da sala, sob o olhar consternado de Raul que exorava a
Bondade Divina em silêncio.
Coleando pelo chão, adquiria animalesco aspecto, não obstante sob a guarda
generosa de sentinelas da casa.
Áulus e o irmão Clementino, usando avançados recursos magnéticos, interferiram
no deplorável duelo, constrangendo o obsessor a desvencilhar-se, de certo modo,
da enferma que continuou, ainda assim, dominada por ele, a estreita distância.
Após reerguer a doente, auxiliando-a a sentar-se, rente ao marido, nosso
instrutor deu-se pressa em explicar-nos:
- É um problema complexo de fascinação. Nossa irmã permanece controlada por
terrível hipnotizador desencarnado, assistido por vários companheiros que se
deixaram vencer pelas teias da vingança. No ímpeto de ódio com que se lança
sobre a infeliz, propõe-se humilhá-la, utilizando-se da sugestão. Não fosse o
concurso fraternal que veio recolher neste santuário de prece, em transes como
este seria vítima integral da licantropia deformante. Muitos Espíritos,
pervertidos no crime, abusam dos poderes da inteligência, fazendo pesar tigrina
crueldade sobre quantos ainda sintonizam com eles pelos débitos do passado. A
semelhantes vampiros devemos muitos quadros dolorosos da patologia mental nos
manicômios, em que numerosos pacientes, sob intensiva ação hipnótica, imitam
costumes, posições e atitudes de animais diversos.” (2)
O resgate
“... O trabalho de resgate desses pobres irmãos, que chegam até a perder
a consciência da sua própria identidade, é tão difícil quão doloroso, e jamais poderá
ser feito sem a mais ampla cobertura espiritual. Além da dor que experimentamos
ao presenciar tão espantosa aflição, estejamos certos de que a audácia de
socorrer tais irmãos desata sobre os grupos que a manifestam toda a cólera das
organizações que os subjugam.
... É essa, às vezes, a única maneira de trazê-los à doutrinação e à tentativa
de entendimento. Esteja, porém, o grupo, atento e preparado para recebê-los,
porque eles virão realmente fora de si, transtornados de ódio, ante o
atrevimento daqueles que ousam provocá-los.
... Chegado, porém, o momento do resgate, não há defesa que consiga
resistir à vontade soberana de Deus, e os trabalhadores humildes da seara do
Cristo conseguem trazê-los, nos braços amorosos.
... São usualmente recolhidos a instituições especializadas, onde vai
realizar-se a tarefa do descondicionamento. É novamente a hora de inúmeros
especialistas: médicos da alma, cirurgiões do perispíríto, profundos
conhecedores da biologia transcendental e das complexidades da mente.
Comparecem planejadores, doutrinadores, médiuns, magnetizadores, para
reconstruir, com amor, o que foi destruído com ódio, pelos planejadores,
doutrinadores, médiuns e magnetizadores das trevas. As forças são as mesmas, os
mecanismos são idênticos, os recursos são semelhantes, somente a direção é que
muda.
... quase sempre os dedicados operadores que nos ajudam a reconstruir o
Espírito, arrasado pela dor do resgate, são aqueles mesmos que, em épocas
remotas, utilizaram-se dos seus conhecimentos para oprimir, para impor
angústias e aflições, em nome de incontroladas ambições pessoais.” (3)
A fascinação
“A fascinação tem conseqüências
muito mais graves. É uma ilusão produzida pela ação direta do Espírito sobre o
pensamento do médium e que, de certa maneira, lhe paralisa o raciocínio, relativamente
às comunicações. O médium fascinado não acredita que o estejam enganando: o Espírito
tem a arte de lhe inspirar confiança cega, que o impede de ver o embuste e de compreender
o absurdo do que escreve, ainda quando esse absurdo salte aos olhos de toda
gente. A ilusão pode mesmo ir até ao ponto de o fazer achar sublime a linguagem
mais ridícula. Fora erro acreditar que a este gênero de obsessão só estão
sujeitas as pessoas simples, ignorantes e baldas de senso. Dela não se acham
isentos nem os homens de mais espírito, os mais instruídos e os mais
inteligentes sob outros aspectos, o que prova que tal aberração é efeito de uma
causa estranha, cuja influência eles sofrem.” (4)
A subjugação
“A subjugação é uma constrição
que paralisa a vontade daquele que a sofre e o faz agir a seu mau grado. Numa palavra:
o paciente fica sob um verdadeiro jugo.
A subjugação pode ser moral ou
corporal. No primeiro caso, o subjugado é constrangido a tomar
resoluções muitas vezes absurdas e comprometedoras que, por uma espécie de
ilusão, ele julga sensatas: é uma como fascinação. No segundo caso, o Espírito
atua sobre os órgãos materiais e provoca movimentos involuntários. (5)
As causas: a culpa, débitos do passado, lesões perispirituais, imperfeição moral e reforma moral.
A cura: reforma moral, amor no coração, estudo da Doutrina, Evangelho no Lar, trabalho incessante no bem, prece, passe e água fluidificada.
Fraternalmente,
Refletindo o Espiritismo
(1) “Diálogo
com as sombras”, Hermínio C. Miranda.
(2) “Nos Domínios da
Mediunidade”, pelo Espírito André Luiz, psicografia de Francisco
Cândido Xavier.
(3) “Diálogo com as sombras”, Hermínio C. Miranda
(4) “O Livro dos Médiuns”, item 239, Allan Kardec.
(5) “O Livro dos Médiuns”, item 240, Allan Kardec.