Friday, July 12, 2013

Entrevista: John Gilbert Maciel

John Gilbert Maciel é Engenheiro Eletrônico, nasceu e cresceu em berço espírita, em São Mateus do Sul, no Paraná, uma pequena cidade situada a 140 km ao sudoeste de Curitiba.

John é bisneto de Manoel Figueira Neto, um português do Alentejo, que converteu-se ao Espiritismo em torno de 1870. Iniciador do Consolador prometido em São Mateus do Sul, Manoel fundou na cidade, em 1942, a Casa Espírita Manoel Figueira Neto.

Dando continuidade aos trabalhos edificados por Manoel, o pai de John, Gregório Figueira Maciel, também se destacou no movimento Espírita da cidade e foi um grande estudioso do Espiritismo, deixando uma biblioteca com mais de 7.000 livros e dezenas de edições da Revista Espírita.

E foi neste ambiente iluminado que John começou seus estudos na Doutrina Espírita aos sete anos de idade e aos 22 iniciou-se na prática mediúnica.

Mas a história de John estava escrita para continuar em outras terras. Convidado a participar de um projeto da Siemens nos Estados Unidos, John embarcou nesta aventura, que já dura 16 anos. E, além da oportunidade profissional, o irmão continuou atuante no movimento Espírita junto a outros brasileiros e aos norte-americanos.

John chegou na Flórida e lá participou de três Centros Espíritas. Em dezembro de 2007 mudou-se para Dallas e, desde então, frequenta a Spiritist Society of Dallas, a SSD.

Muito atuante nas atividades da Casa, John já assumiu o cargo de vice-presidente, entre 2009 e 2011. Hoje está focado nas suas palestras e nos cursos doutrinários que ele ministra.

John é um defensor da Federação Espírita Brasileira, pois acredita que sem leme o movimento irá desintegrar-se, ou tomará rumos hediondos.
 
Leia mais sobre John e seu trabalho dentro da Doutrina Espírita nos EUA, na entrevista abaixo:

RE - Como você iniciou suas atividades doutrinárias nos EUA?
JM - Participei do movimento Espírita nos EUA já desde a Flórida, logo após ter chegado aqui em 1997, em três diferentes Centros. Mas só fui atuar em atividades doutrinárias depois de dezembro de 2007, quando mudei-me para Dallas, na Spiritist Society of Dallas.

RE - Como surgiu o Spiritist Society of Dallas?
JM - Quando cheguei a Dallas, em dezembro de 2007, nosso Centro Espírita se chamava Grupo Espírita Francisco de Assis e já operava no endereço atual, na Forest Lane, há alguns poucos meses. Antes da Forest Lane havia um grupo de pessoas que se reuniam em salão de restaurante (vazio), garagem, casa de alguém. Foi assim que surgiu nosso grupo atual.

RE - Como funciona o Centro Espírita hoje? Quais são as atividades doutrinárias oferecidas?
JM - Comecemos pelo pilar, que é o público: nossas reuniões públicas são terças-feiras, em português, das 20:00 às 21:00. Nas quartas-feiras temos a reunião pública em inglês, das 19:00 às 20:00. Também possuímos três grupos frequentando uma classe que chamamos “Terapia do Evangelho”. O primeiro grupo se reúne quintas-feiras, das 18:00 às 19:15, no idioma português. Neste mesmo dia e horário temos um segundo grupo no idioma inglês, com a classe Gospel Therapy. Aos sábados temos esta mesma classe, das 15:00 às 16:15, em português.
Nas quintas-feiras, das 20:00 às 21:00, temos a classe Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita, ou ESDE, um curso produzido pela Federação Espírita Brasileira, no idioma português. Também na quinta-feira, das 21:15 às 22:00 temos nossa reunião mediúnica, mas esta é reservada para aqueles que já passaram pelo curso de médiuns que a casa oferece de tempos em tempos. Os cursos de médiuns, a exemplo do ESDE, são cursos longos, que podem levar anos. Nas terças-feiras e nos sábados temos a evangelização infantil, no idioma inglês.

RE - Fale-nos um pouco sobre os irmãos que dirigem esta Casa.
JM - Sem dúvida a Spiritist Society of Dallas só existe pelo desejo, empenho e dedicação da diretoria. Sem eles esta Casa não existiria e eles trabalham duro para que ela continue.

Atualmente a estrutura gerencial do SSD está formada assim:
Presidente: Alberto Colirri
Diretora Financeira: Katia Silva
Diretor Administrativo: Ricardo Leite
Diretora Doutrinária: Laura Colirri

RE - O Centro realiza atividades para arrecadar verbas?
JM - Sim, diversas atividades. Temos um número de membros permanentes, que fazem doações regulares, mensais, e formam a espinha dorsal da arrecadação. Convidamos a todos que podem a fazerem parte desta categoria. Também promovemos encontros anuais, a exemplo da Festa Junina, que geralmente ocorre em maio, devido às altas temperaturas de junho no Texas, ou a “garage sale”, em outubro. Durante o ano promovemos outros encontros com filmes e jantares beneficentes. Estimulamos a doação espontânea através do nosso website http://www.ssdallas.org/ ou em pessoa na portaria da Casa.

RE - Como são realizadas as reuniões públicas e os estudos?
JM - Nas reuniões públicas nós temos uma palestra de cerca de 30-40 minutos e os passes espirituais, tão conhecidos no meio Espírita padrão.
Os estudos são ministrados da forma mais séria e consequente possível, tentando trazer cada indivíduo à sua responsabilidade no espectro da vida física e espiritual. Os participantes possuem seus livros para leitura e estudo e realizam tarefas em classe e em casa.

RE - Como são adquiridos e formatados os materiais de estudo?
JM - Em geral trazemos os livros do Brasil e os disponibilizamos aqui para os participantes. Para os cursos nós fabricamos testes e apresentações em PowerPoint. Cursos como o de médiuns são integralmente formatados pela Casa, utilizando como base livros da FEB.

RE - O Centro tem uma biblioteca? Como vocês conseguem viabilizar os livros?
JM - Sim, temos uma biblioteca pequena, mas que tem atendido a maioria das necessidades prementes. Os livros podem ser levados para leitura em casa após um registro simples. A maior parte destes livros foram doações de particulares. Recomendamos que as doações se limitem aos livros editados ou corroborados pela FEB.

RE - Existem muitos livros Espíritas na língua inglesa? Como está sendo feito o trabalho de tradução para esta língua?
JM - Não muitos, mas a cada dia que passa há mais. Grande parte deste esforço é realizado por editoras como a EDICEI, por exemplo. Nossa casa também tem trabalhado em algumas traduções, através de voluntários dedicados. Este é um trabalho exaustivo e metódico.

RE - Como são realizados os trabalhos mediúnicos?
JM - Nós temos concentrado os trabalhos em resgatar espíritos que já estão prontos para serem transferidos das zonas inferiores para os hospitais de recuperação. Mas também atendemos aos eventuais errantes que passam pela Casa naquela hora. Médiuns psicofônicos recebem estes espíritos que são, então, esclarecidos por dialogadores capacitados.

RE - Como é recebida a Doutrina Espírita pelos norte-americanos?
JM - Quando nós pensamos em “Espiritismo” nossa mente imediatamente nos remete ao formato de pensamento e interação brasileiros. É inevitável, pois somos brasileiros. O povo norte-americano, bem como o europeu ou asiático, são bem distintos culturalmente e em especial no quesito religião. Nossa penetração nos EUA entre americanos é infinitesimal e daí que ainda não nos é possível ter uma opinião correta, mas só especulativa e a esta devemos evitar.

RE - Qual é a frequência de norte-americanos no Centro?
JM - Em nossa casa é muito pequena, inferior a 1%.

RE - Existem irmãos de outras nacionalidades que procuram a Casa, além dos norte-americanos?
JM - Sim, tivemos alguns casos. Mas que permaneceu, até o dia de hoje, trabalhando na Casa, temos somente um irmão. Mas ele está firme conosco! Há alguns poucos que frequentam aleatória e esporadicamente, por terem esposado um brasileiro ou uma brasileira.

RE - Como os frequentadores da Casa, que não são brasileiros, recebem as atividades do Passe e da água fluidificada?
JM - De quando em quando é preciso sentar com alguns e explicar. Eles não entendem como funciona, o que é razoável. Já demos passe em um americano que ficou apavorado durante a sessão, gesticulando defensivamente em estresse. Por isso é preciso cuidado e atenção, não desprezando os sentimentos e sensações daqueles que desconhecem a prática Espírita.

RE - Como está sendo feito o trabalho de divulgação da Doutrina Espírita nos EUA?
JM - Essencialmente pelo United States Spiritist Council e por grupos bem ativos nacionalmente como o Spiritist Society of Baltimore, diversos Centros na Flórida e a Spiritist Society of New Jersey.

RE - Existem outras Casas Espíritas no estado onde você mora?
JM - Sim, também temos grupos Espíritas em Austin, Houston e San Antonio.

RE - Qual é o panorama da Doutrina Espírita hoje nos EUA e como você o vê no futuro?
JM - A resposta é complexa. Recentemente, em uma reunião com o presidente do “United States Spiritist Council”, foi-nos lembrado que o Espiritismo já tem 50 anos de Estados Unidos. Também foi divulgado, o que de alguma forma já sabíamos, de que a penetração do Espiritismo nos EUA é irrelevante. Alguns poucos indivíduos aqui e lá não são números expressivos. Para ter alguma participação real teríamos que contar já com milhares de seguidores, imprensa e congressos liderados por americanos. Por isso, o USSC recomenda que nós passemos a fazer todos os nossos trabalhos no idioma inglês. Este é um trabalho que poderá levar anos, porque a presença de brasileiros nos encontros Espíritas é esmagadora. Durante o sétimo encontro Espírita nacional, que foi realizado no último abril em Austin, foi pedido que só falássemos em inglês, mas isto não ocorreu. Sem isto não haverá futuro para o Espiritismo nos EUA. Mas também devemos estar preparados para outra forma de ver e praticar a doutrina. Esperar que os americanos venham conduzir o Espiritismo como os brasileiros o fazem é receita para decepção. Trabalhemos juntos para mudar esta expectativa entre brasileiros e estejamos preparados para mudanças.

RE - Você poderia, fraternalmente, nos deixar uma mensagem final?
JM - A doutrina Espírita abre uma porta de conhecimento inestimável ao espírito encarnado. Estas informações podem e devem ser utilizadas por nós para nos desvencilharmos das pequenezas habituais da alma. A tarefa é complexa porque nossos subconscientes nos pregam peça, desacoplando-nos dos grupos que desprezamos, como que se já tivéssemos atingido estágio superior. Entendemos que o grau de compreensão e execução efetiva das máximas Espíritas é relativo ao nível individual de cada um e que assim se processa a Lei de Deus, inexoravelmente justa e boa. Mas somos responsáveis por tudo que fazemos e até por nossos pensamentos. Um sem fim de conhecimentos equivocados será escrito, até pelos mais famosos dentre nós, que são errôneos e levam hordas ao engano coletivo. Resta-nos orar e vigiar e estudar sem parar, analisando e reavaliando nossas reações e idéias constantemente e proceder, enfim, assim, como Deus o quis quando nos criou. Paz e bênçãos.

 

5 comments:

  1. This comment has been removed by the author.

    ReplyDelete
  2. Excelente tua matéria Gabriela, buscando a divulgação do Espiritismo nos EUA, trabalho que tantos executam aqui com muito esmero e dedicação. Parabéns, John Maciel.

    ReplyDelete
  3. É muito bom saber que você gostou querido amigo! Juntos, nós espalharemos a Luz do Mestre por todo o Planeta e entre os irmãos desencarnados que nos acompanham! Abs!

    ReplyDelete
  4. A necessidade de se doutrinar em inglês é óbvia e premente, mas exigir que todos os cultos sejam na língua oficial do país é no mínimo ignorar o bem que faz a presença estrangeira.

    É fundamental trabalhar para a união das forças, dos espíritos dedicados ao bem. E é somente com compreensão, paciência e amor de ambas as partes que a doutrina espírita conseguirá se estabelecer de forma permanente NOS EUA.

    E não é sem dificuldades, mas é com alegria que se vence a cada passo. Desejo-lhes a tranquilidade e a paciência necessária para chegar ao sucesso.

    Com Luz, Paz e Amor.

    Carlos Maciel

    ReplyDelete
  5. Olá Carlos,
    Muito interessante isto que você escreveu, porque me faz pensar o quanto eu ainda estou ligada na língua Portuguesa.
    Eu consigo me desprender de muitas outras coisas e ser uma "cidadã do mundo", mas devo confessar que me sinto muito mais confortável quando estou numa reunião Espírita em Português. Talvez porque eu tenha começado a viajar e morar fora do Brasil já adulta?! Pois vejo que com crianças não é assim. As crianças falam a língua do país, a língua dos pais e quantas outras forem necessárias. É o desprendimento do Espírito na infância da carne!
    Costumo frequentar reuniões em Inglês também para, não só, vencer esta barreira, mas para poder conversar com os amigos estrangeiros sobre a Doutrina.
    E como o acaso não existe, Deus nos coloca em lugares e situações que seremos necessários!
    Muito obrigada pela reflexão!
    Paz e bençãos!

    ReplyDelete