Porém, conforme estudos de Léon Denismortos. Estes, que eram representantes das tarefas
filosóficas, de aconselhamento e ensino, além de serviços jurídicos dentro da
sociedade celta, acreditavam na continuação da existência depois da morte,
e reuniam-se em suas casas, no primeiro dia de novembro, para homenagear e
evocar os mortos. (1) , foram os druidas quem determinaram uma data especial
para a comemoração dos
Importante ressaltar que os rituais druidas estavam relacionados ao contato
com os Espíritos de luz, fontes de orientação e inspiração. “A lua negra, a
altura em que a lua não pode ser vista no céu, era a fase que regia este
período, porque representa uma altura em que a nossa visão mortal precisa de
ser obscurecida para que possamos perscrutar os outros mundos.” (2)
Contudo,
mais importante do que sabermos quem determinou esta comemoração é a
compreensão da mesma na visão espírita. Vejamos, abaixo, o que “O Livro dos
Espíritos” nos esclarece, além de um rico testemunho transcrito da obra “Cartas
e Crônicas”.
Comemoração dos mortos. Funerais
320. Sensibiliza os
Espíritos o lembrarem-se deles os que lhes foram caros na Terra?
“Muito mais do que podeis supor.
Se são felizes, esse fato lhes aumenta a felicidade. Se são desgraçados, serve-lhes
de lenitivo.”
321. O dia da comemoração
dos mortos é, para os Espíritos, mais solene do que os outros dias? Apraz-lhes
ir ao encontro dos que vão orar nos cemitérios sobre seus túmulos?
“Os Espíritos acodem nesse dia ao
chamado dos que da Terra lhes dirigem seus pensamentos, como o fazem noutro dia
qualquer.”
a) — Mas o de finados é,
para eles, um dia especial de reunião junto de suas sepulturas?
“Nesse dia, em maior número se
reúnem nas necrópoles, porque então também é maior, em tais lugares, o das pessoas
que os chamam pelo pensamento. Porém, cada Espírito vai lá somente pelos seus
amigos e não pela multidão dos indiferentes.”
b) — Sob que forma aí
comparecem e como os veríamos, se pudessem tornar-se visíveis?
“Sob a que tinham quando
encarnados.”
322. E os esquecidos,
cujos túmulos ninguém vai visitar, também lá, não obstante, comparecem e sentem
algum pesar por verem que nenhum amigo se lembra deles?
“Que lhes importa a Terra? Só
pelo coração nos achamos a ela presos. Desde que aí ninguém mais lhe vota afeição,
nada mais prende a esse planeta o Espírito, que tem para si o Universo inteiro.”
323. A visita de uma
pessoa a um túmulo causa maior contentamento ao Espírito, cujos despojos corporais
aí se encontrem, do que a prece que por ele faça essa pessoa em sua casa?
“Aquele que visita um túmulo
apenas manifesta, por essa forma, que pensa no Espírito ausente. A visita é a representação
exterior de um fato íntimo. Já dissemos que a prece é que santifica o ato da
rememoração. Nada importa o lugar, desde que é feita com o coração.”
324. Os Espíritos das
pessoas a quem se erigem estátuas ou monumentos assistem à inauguração de umas
e outros e experimentam algum prazer nisso?
“Muitos comparecem a tais
solenidades, quando podem; porém, menos os sensibiliza a homenagem que lhes
prestam, do que a lembrança que deles guardam os homens.”
325. Qual a origem do
desejo que certas pessoas exprimem de ser enterradas antes num lugar do que
noutro? Será que preferirão, depois de mortas, vir a tal lugar? E essa importância
dada a uma coisa tão material constitui indício de inferioridade do Espírito?
“Afeição particular do Espírito
por determinados lugares; inferioridade moral. Que importa este ou aquele canto
da Terra a um Espírito elevado? Não sabe ele que sua alma se reunirá às dos que
lhe são caros, embora fiquem separados os seus respectivos ossos?”
a) — Deve-se considerar
futilidade a reunião dos despojos mortais de todos os membros de uma família?
“Não; é um costume piedoso e um
testemunho de simpatia que dão os que assim procedem aos que lhes foram entes
queridos. Conquanto destituída de importância para os Espíritos, essa reunião é
útil aos homens: mais concentradas se tornam suas recordações.”
326. Comovem a alma que volta à
vida espiritual as honras que lhe prestem aos despojos mortais?
“Quando já ascendeu a certo grau de perfeição, o Espírito se acha
escoimado de vaidades terrenas e compreende a futilidade de todas essas coisas.
Porém, ficai sabendo, há Espíritos que, nos primeiros momentos que se seguem à
sua morte material, experimentam grande prazer com as honras que lhes tributam,
ou se aborrecem com o pouco caso que façam de seus envoltórios corporais. É que
ainda conservam alguns dos preconceitos desse mundo.”
327. O Espírito assiste ao seu
enterro?
“Freqüentemente assiste, mas, algumas vezes, se ainda está perturbado,
não percebe o que se passa.”
a) —
Lisonjeia-o a concorrência de muitas pessoas ao seu enterramento?
“Mais ou menos, conforme o sentimento que as anima.”
328. O Espírito daquele que acaba
de morrer assiste à reunião de seus herdeiros?
“Quase sempre. Para seu ensinamento e castigo dos culpados, Deus permite
que assim aconteça. Nessa ocasião, o Espírito julga do valor dos protestos que
lhe faziam. Todos os sentimentos se lhe patenteiam e a decepção que lhe causa a
rapacidade dos que entre si partilham os bens por ele deixados o esclarece
acerca daqueles sentimentos. Chegará, porém, a vez dos que lhe motivam essa
decepção.”
329. O instintivo respeito que,
em todos os tempos e entre todos os povos, o homem consagrou e consagra aos mortos
é efeito da intuição que tem da vida futura?
“É a conseqüência natural dessa intuição. Se assim não fosse, nenhuma
razão de ser teria esse respeito.”
(Livro: O Livro dos Espíritos, Allan Kardec – cap. VI,
Da Vida Espírita, Comemoração dos mortos. Funerais – ed. FEB)
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Carta de um morto
Pede-me você notícias do
cemitério nas comemorações de Finados. E como tenho em mãos a carta de um
amigo, hoje na Espiritualidade, endereçada a outro amigo que ainda se encontra
na Terra, acerca do assunto, dou-lhe a conhecer, com permissão dele, a missiva que
transcrevo, sem qualquer referência a nomes, para deixar-lhe a beleza livre das
notas pessoais.
Eis o texto em sua feição pura e
simples:
Meu caro, você não pode imaginar
o que seja entregar à terra a carcaça hirta. no dia dois de Novembro.
Verdadeira tragédia para o morto
inexperiente.
Lembrar-se-á você de que o
enterro de meu velho corpo, corroído pela doença, realizou-se ao crepúsculo,
quando a necrópole enfeitada parecia uma casa em festa.
Achava-me tristemente instalado
no coche fúnebre, montando guarda aos meus restos, refletindo na miserabilidade
da vida humana...
Contemplando de longe minha
mulher e meus filhos, que choravam discretamente num largo automóvel de aluguel,
meditava naquele antigo apontamento de Salomão – “vaidade das vaidades, tudo é
vaidade” –, quando, à entrada do cemitério, fui desalojado de improviso.
Na multidão irrequieta dos vivos
na carne, vinha a massa enorme dos vivos de outra natureza. Eram desencarnados
às centenas, que me apalpavam curiosos, entre o sarcasmo e a comiseração.
Alguns me dirigiam indagações
indiscretas, enquanto outros me deploravam a sorte.
Com muita dificuldade, segui o
ataúde que me transportava o esqueleto imóvel e, em vão, tentei conchegar-me à
esposa em lágrimas.
Mal pude ouvir a prece que alguns
amigos me consagravam, porque, de repente, a onda tumultuária me arrebatou ao
círculo mais íntimo.
Debalde procurei regressar à
quadra humilde em que me situaram a sombra do que eu fora no mundo... Os
visitantes terrestres daquela mansão, pertencente aos supostos finados, traziam
consigo imensa turba de almas sofredoras e revoltadas, perfeitamente jungidas a
eles mesmos.
Muitos desses Espíritos,
agrilhoados aos nossos companheiros humanos, gritavam ao pé das tumbas,
contando os crimes ocultos que os haviam arremessado à vala escura da morte,
outros traziam nas mãos documentos acusadores, clamando contra a insânia de
parentes ou contra a venalidade de tribunais que lhes haviam alterado as
disposições e desejos.
Pais bradavam contra os filhos.
Filhos protestavam contra os pais.
Muitas almas, principalmente
aquelas cujos despojos se localizam nos túmulos de alto preço, penetravam a
intimidade do sepulcro e, de lá, desferiam gemidos e soluços aterradores,
buscando inutilmente levantar os próprios ossos, no intuito de proclama aos
entes queridos verdades que o tímpano humano detesta ouvir".
Muita gente desencarnada falava
acerca de títulos e depósitos financeiros perdidos nos bancos, de terras
desaproveitadas, de casas esquecidas, de objetos de valor e obras de arte que
lhes haviam escapado às mãos, agora vazias e sequiosas de posse material.
Mulheres desgrenhadas clamavam vingança contra homens cruéis, e homens carrancudos e inquietos vociferavam contra mulheres insensatas e delinqüentes.
Talvez porque ainda trouxesse
comigo o cheiro do corpo físico, muitos me tinham por vivo ainda na Terra,
capaz de auxiliá-los na solução dos problemas que lhes escaldavam a mente, e
despejavam sobre mim alegações e queixas, libelos e testemunhos.
Observei que os médicos, os
padres e os juízes são as pessoas mais discutidas e criticadas aqui, em razão
dos votos e promessas, socorros e testamentos, nos quais nem sempre
corresponderam à expectativa dos trespassados.
Em muitas ocasiões, ouvi de
amigos espíritas a afirmação de que há sempre muitos mortos obsidiando os
vivos, mas, registrando biografias e narrações, escutando choro e praga, tanto
quanto vendo o retrato real de muitos, creio hoje que há mais vivos flagelando
os mortos, algemando-os aos desvarios e paixões da carne, pelo menosprezo com
que lhes tratam a memória e pela hipocrisia com que lhes visitam as sepulturas.
Tamanhos foram meus obstáculos,
que não mais consegui rever os familiares naquelas horas solenes para a minha
incerteza de recém-vindo, e, somente quando os homens e as mulheres, quase
todos protocolares e indiferentes, se retiraram, é que as almas terrivelmente
atormentadas e infelizes esvaziaram o recinto, deixando na retaguarda tão somente
nós outros, os libertos em dificuldade pacífica, e fazendo-me perceber que o
tumulto no lar dos mortos era uma simples conseqüência da perturbação reinante
no lar dos vivos.
Apaziguado o ambiente, o
cemitério pareceu-me um ninho claro e acolhedor, em que me não faltaram braços
amigos, respondendo-me às súplicas, e a cidade, em torno, figurou-se-me, então,
vasta necrópole, povoada de mausoléus e de cruzes, nos quais os espíritos
encarnados e desencarnados vivem o angustioso drama da morte moral, em
pavorosos compromissos da sombra.
Como vê, enquanto a Humanidade
não se habilitar para o respeito à vida eterna, é muito desagradável embarcar
da Terra para o Além, no dia dedicado por ela ao culto dos mortos que lhe são
simpáticos e antipáticos.
Peça a Jesus, desse modo, para
que você não venha para cá, num dia dois de Novembro. Qualquer outra data pode
ser útil e valiosa, desde que se desagarre daí, naturalmente, sem qualquer
insulto à Lei. Rogue também ao Senhor que, se possível, possa você viajar ao
nosso encontro, num dia nublado e chuvoso, porque, em se tratando de sua paz,
quanto mais reduzido o séqüito no enterro será melhor.
E porque o documento não
relaciona outros informes, por minha vez termino também aqui, sem qualquer
comentário.
(Livro: Cartas e
Crônicas, ditadas pelo Espírito Irmão X, psicografia de Francisco Cândido
Xavier, ed. FEB)
(1) “O Gênio céltico e o mundo
invisível”, Léon Denis, ed. Celd)
(2) “Ordem dos Bardos, Ovates e Druidas” http://www.obod.com.pt/artigo_samhuinn.htm
Fraternalmente,
Refletindo o
Espiritismo
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